Quarta-feira

[ texto escrito em 24/02/10 era quarta feira e.. estava frio. ]


Esse céu sem brilho, formado por delicadas e finas nuvens que vem ganhando tons de cinza ao passar preguiçoso do vendo, é mais do que eu poderia pedir em um dia normal, fresco e leve como o de hoje. O ar parece estar mais solto, mais puro, chega a ser gostosa a sensação que ele nos trás ao fazer o caminho simples até nossos pulmões, resultado da chuva da noite escura que arrastou um ar mais frio pela madrugada, abrindo pra todas as pessoas uma manha mais bela, com esse ar mais puro, com uma brisa de causar calafrios na pele exposta.


Pela janela, agora, observo as folhas das árvores formando um mesmo ritmo, ondulando e se inclinando pra deixar o vento passar através delas, ao longe o ruído indiscreto de borracha em contato veloz com o asfalto, que não é belo, nem sutil, mas, que se não escolhermos prestar atenção nesse som, ele compõe uma melodia de fundo, que jaz esquecida nesse ritmo acelerado de mais, em que vivemos.

Desacelere, preste atenção, pare onde está, desligue o som, ouça, o que você ouve? Eu ouço meu som de fundo de todos os dias que vem de longe, mas também há coisas que se destacam, cães ao longe, eventuais pássaros alvoroçados que cantam seu canto que hoje está combinando com o céu, alguém passou à cavalo logo ali, alguém deixou algo cair, e, aqui dentro, ‘silêncio’, aqui, mais perto ainda, ‘silêncio’, está tudo quieto aqui, se eu me concentrar ouço meu próprio coração bater, as vezes ele acelera, com algum pensamento ou com alguma lembrança e logo, ou nem tão logo, ele volta ao seu ritmo impassível e tedioso, tum-tum, tum-tum...

Não é possível sentir essas coisas em dias normais, nem ouvir, nem pensar com tanta clareza nesses detalhes ao nosso redor, que nos dão alegria em dias assim.

Hoje não é um dia normal, hoje é um dia cinza, um dia de nuvens, e de considerável silencio, porque o cinza é bom, se te traz calma, se te faz ver o que os raios do sol ofuscam, se te faz puxar um edredom e ficar pensando em coisas boas, e curtir um dia normal, de um jeitinho diferente.

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